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Sunday, February 05, 2012

Vênus

Esse texto é pura e somente sobre aquilo que eu chamo de amor. E ele vem sendo maquinado por dias na minha cabeça no caminho que faço de volta pra casa. Funcionou assim essa semana: voltar pela baía do pontal pensando que a paisagem é linda e argumentando comigo mesma sobre o que eu chamo de amor. E tudo isso começou porque me lembrei de um tempo em que eu dizia em alto e bom som que não acreditava nele.

Pensei em simplesmente plagiar o Paulinho Moska e colar Vênus aqui. Mas já fiz isso antes. Pensei em usar alguma metáfora, mas corria o risco de cair no clichê. Pensei em explicar como eu me sinto quando estou amando. Mas ia dar trabalho demais explicar uma coisa que nem eu consigo entender direito. Mas uma coisa que eu posso dizer sobre o amor é que ele existe como qualquer outra coisa desse mundo: nasce, cresce, e morre. Sim, sim. O amor morre. Você pode até preferir chamar esse amor de paixão, de desejo, mas acredite, é amor também. O amor que eu conheço é daqueles sentimentos que você é obrigado a sentir mesmo que não queira várias vezes durante a vida. E em alguns casos ele vai ser tão bem cuidado e tão palpável que dificilmente morrerá . E eu não estou separando o amor por categoria. Não, não. Qualquer amor , por qualquer pessoa, por qualquer momento, por qualquer lugar. Amor precisa ser cuidado. Cativado, se você preferir os ensinamentos de Saint Exupery. E quando ele morre,ele dá espaço a outro amor. Ele vira outra coisa. E às vezes, nem vira nada. O amor é sempre de verdade, mesmo que acabe.
Hoje, pra mim, o amor é chegar cansada na sexta e acordar no sábado às 8 da manhã, pegar um ônibus lotado, subir uma ladeira enorme só pra ver as duas mulheres mais importantes da minha vida. O amor pra mim hoje, está ali na sala ao lado estudando pra uma prova de direito tributário, mas antes estava aqui do meu lado me fazendo rir, esse meu amor é Lindo. O amor pra mim fica no alto de um sexto andar que parece nunca ter fim mas que eu subo só porque morro de saudades de rir com ela. O amor pra mim anda sumido, mas eu sei que sempre será meu samurai. O amor pra mim vai se formar daqui a uns meses, mas já me enche de orgulho. O amor pra mim está comigo desde a sexta série e faz parceria mesmo que a distância. O amor já me deu abrigo por semanas em sua casa e me ajudou a escrever um projeto de mestrado. O amor faz o melhor cafuné do mundo e me levou pra Lapa. O amor está grávida da minha primeira sobrinha. O amor se parece tanto, tanto comigo que vendo nossas fotos eu até levo alguns sustos em como somos parecidas. O amor foi minha boneca por muitos anos e hoje em dia me ensina muita coisa. O amor eu chamo de pithunthungo apesar dele ter um metro de oitenta. O amor mora no meu caminho de volta pra casa, nos barquinhos do pontal, mora na Figueira Branca e no fogão de lenha de D. Cidinha, mora em Niterói, no caminho do açúde, mora na casa de vovó cecé. O amor se manifesta nos meus textos, na minha vontade de ser a melhor redatora do mundo, e na profissão que eu escolhi, mesmo que às vezes eu tenha medo dela. O amor está nos meus livros que me lembram as escolhas que eu sempre fiz.... Esses amores, agora eu aprendi, eu tenho que cultivar, cativar, cuidar. Porque senão eles morrem. Sim, o amor morre.

"A vida do amor depende dessa interferência.
A morte do amor é quando, diante do seu labirinto,
Decidimos caminhar pela estrada reta.
Ele nos oferece seus oceanos de mares revoltos e profundos,
E nós preferimos o leito de um rio, com início, meio e fim.

Não, não podemos subestimar o amor e não podemos castrá-lo."

2 comments:

Mel Andrade said...

Engraçado você postar aqui sobre a morte do amor, pq justamente na semana passada eu estava refletindo como nenhum amor meu nunca morreu. As pessoas que eu realmente cheguei a amar não são menos amadas por mim hoje em dia, mesmo que a vida tenha caminhado e eu tenha me separado de algumas. Vai ver por isso amor pra mim, todo tipo dele, seja algo muito muito sério. Quem eu realmente amo, normalmente, teve bastante trabalho pra conseguir um cadinho do meu amor. Houveram alguns para os quais o meu amor veio tão fácil e naturalmente como respirar. Acho que, nesse caso, alguns amores se reconhecem... Como quando você encontra alguém tão diferente de você mas percebe que, além de fazerem parte da mesma classe de verduras verdes e espinhentas, vocês seguem caminhos tão juntinhos na vida...
TE AMO.

Lost Samurai said...

Belíssimo texto, como todos os outros que já vi você escrever, mas particularmente e individualmente belo. Kekinha falando com muita propriedade da faceta mutante e camaleônica do amor. As suas várias faces e manifestações. Muito embora eu acredite na imortalidade do amor, adorei o texto. Beijos!