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Wednesday, February 20, 2013

Quem mexeu na minha cereja?


Voltando a escrever contos. Coisas da vida. Obrigada Xuxu, pelas boas ideias. 

“Quem mexeu na minha cereja?”, perguntava-se Marianna. Logo ela, sempre tão atenta as suas coisas, tão organizada quando se tratava de algum dos seus roteiros audiovisuais. Sim. Tinha escolhido trabalhar com vídeo e tudo que se referia a imagem e formas de se ver o mundo desde muito nova. Já nos tempos de primário era leitora assídua de seja lá o que fosse, seja lá o que lhe caísse nas mãos. Música? Era paixão. Arranhava alguma coisa no violão, mas tinha que admitir que seu forte mesmo era escrever. Nem que fosse com uma câmera. Sim, ela gostava de escrever com os olhos. Imprimir numa tela o que pensava para que qualquer que fosse outra pessoa conseguisse ler seus sentimentos. E assim virou roteirista.
O filme sobre a cereja foi uma ideia meio maluca, surgida numa noite de bebedeira que acabou em vários goles d’água e um pacote de biscoito bauduco sabor goiaba. Mariana gostava de goiabinhas. Mas isso não vem ao caso. O caso é que nessa noite maluca ela resolveu que faria um filme metáfora sobre a vida. Compararia a vida com uma fruta. E sabe-se lá porque achou que a cereja seria pertinente. No fundo, Mariana achava que a fruta representava mil coisas: a cor vermelha lembrava luta e ao mesmo tempo certa delicadeza e feminilidade, apesar de pequena a fruta guardava consigo um sabor peculiar  que ia do doce ao meio ácido a depender de qual parte da língua a tocasse, isso sem falar da questão da efemeridade de suas flores e na tão falada “cereja do bolo”, que representava a melhor parte de alguma coisa... Enfim, a cereja era um mundo ideal quando se tratava de metáforas. Começou o roteiro meio tímida, mas a história foi ganhando corpo e logo passou a ter pegada, com personagens fortes, que quase falavam sozinhos em sua cabecinha criativa. Quando apresentou o roteiro para um amigo produtor, esse lhe deu de presente um bloco de anotações em formato da fruta, para que pudesse escrever as ideias que lhe surgissem na mente enquanto pensava na parte prática das gravações. Mariana passou meses tendo ideias e anotando-as compulsivamente em sua cereja.
Um dia, chegou em casa e achou seu bloco de notas sem nenhuma página. Todas tinham sido arrancadas. O que teria acontecido com a cereja de Mariana?

1 comment:

Antônio LaCarne said...

1o texto do dia lido. inspirador demais. super bem escrito. parabéns!