Sofro dessa coisa de errar. De
fazer besteira, ou agir por compulsão. Sofro porque tento ser por diversas
vezes alguém que não sou por achar que deste modo as coisas vão parecer mais
fáceis. Acho às vezes que sofrer deve ser uma espécie de esporte preferido.
Sofro por antecipação e pelo que não vale a pena sofrer porque “Inês já é
morta”. Sofro paranoicamente por pensar
no que os outros vão pensar. E racionalmente, eu sei, sim, eu sei, não faz o
menor sentido e é idiotice sofrer. Pois veja, uma vez admitido a bagaça toda,
eis que chega a hora de tentar admitir todo o resto.
O fato é que eu tenho verdadeiro
talento para fazer besteiras e estragar as coisas que vão muito bem. Consigo criar eventos bizarros até quando é
impossível que algo dê errado. Atraio confusão e gente que vai me meter em
confusão. E faço merdas que eu claramente sei que são merdas e me arrependo no
dia seguinte. E como proceder? O caso é que racionalmente eu também sei como deveria
agir, como deveria ficar, a única coisa que eu sempre soube é que em algum
momento eu iria explodir e resolver jogar no ventilador tudinho que estava me
incomodando. E esse momento chegou.
Os indícios começaram na sexta
feira, em Salvador. Aquela cidade me trazia mais lembranças do que eu gostaria.
Mais lembranças do que eu achei que ia suportar. Das avenidas até o sushi no
shopping, tudinho, tudinho me lembrava um passado não tão distante assim. E o
que era pra ser gostoso e prazeroso tornou-se dolorido. Me vi desanimada,
triste mesmo. A pressão caiu, como se eu estivesse somatizando uma saudade e um
fim. Talvez era meu corpo tentando explicar que meu coração queria que eu
jogasse fora um monte de sentimentos que já não tinham a menor razão de ser.
Num esforço mais que humano resolvi que não podia ficar daquele jeito. Não por
alguém que sim, fato, foi e é importante pra mim. Mas que tem que ir embora.
Que quis ir embora. Oficialmente, é errado comigo mesma insistir em manter um
sentimento, um querer continuar querendo por alguém que por mais de uma vez me
disse que eu não valhia a pena. Joguei pela janela do 17º andar minha aliança
de prata. Aquela que uso há anos e que significava o meu compromisso de
liberdade comigo mesma. Descobri que não preciso de um souvenir de compromisso
algum. Agora sei o que é honrar essa minha liberdade. E agora sei também que
apesar de teoricamente ela ser tão bonita, ao mesmo tempo pode me trazer sérios
problemas e resquícios de solidão. É isso, acho que confundi minha liberdade
com solidão.
Mas foi mesmo no sábado que perdi
a linha. Muitos goles depois, entorpecida por álcool e relaxante muscular
resolvi desabafar. Falei pra quem eu sempre quis falar umas verdades, e quem
passasse pela minha frente ia sofrer com meu ataque de sinceridade. “Eu te
odeio, você é um babaca” ou “Desculpa, mas você foi o maior erro da minha vida”,
ou “Olha, eu até te acho muito gatinho, mas não vai rolar”. E assim por diante. Falei mesmo tudo que eu
queria dizer. Desabafei um quilo de coisas guardadas há muito tempo por falta
de oportunidade de colocar pra fora. Acordei no dia seguinte com ressaca moral
pelo resto das coisas que devo ter feito e não me lembro. Mas hoje, 48 horas
depois, as tranquilizantes 48 horas, cheguei a conclusão: agora não resta mais
nada. Não há mais nada a ser dito. Vou
levar a droga da cicatriz de um relacionamento que eu queria muito que tivesse
dado certo pra sempre. E vou passar
muito, muito, muito tempo sem conseguir me envolver de verdade com alguém real.
E vai doer muito ainda, toda vez que eu ouvir Jeff Buckley ou ver Meu malvado
Favorito. Ou quando encontrar os amigos dele que eu odeio. E os que eu gosto
também. E quando a lua ficar amarela de hepatite. Vai ser assim até eu conseguir firmar um pacto de ser livre de novo.
Até me apaixonar de novo e mais que isso, ser correspondida. Até me envolver de
verdade. Mas agora, hoje, 48h depois, não resta mais nada a ser dito. Não resta
mais nada a ser feito. Inês é morta.
Até o próximo porre.
"This is our last goodbye
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