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Tuesday, May 15, 2012

É preciso saber viver

Brinquei no facebook que minha missão de hoje ia ser escrever um conto feliz. Depois um certo Xuxu me disse "poh xu, não consegui identificar um trecho não depressivo no seu blog, escreve um texto sobre os problemas de outra pessoa que não sejam os seus", ou coisa bem perto disso. Ignorei tudo, desliguei o pc e fui tratar de ler "Os Homens que não amavam as mulheres", que Ligia me emprestou. Bom livro. Estou na metade, e apesar das cenas fortes, gosto da maneira leve com que o autor trata temas tão pesados. Enfim. Isso não é uma resenha literária e o fato é que eu impulsivamente pulei da cama, peguei o computador, liguei-o e resolvi escrever sim sobre uma outra mulher que tem problemas ( como todas as mulheres do mundo).Um dia desses cheguei na casa dela tão, tão triste que quando ela me recebeu com tanto amor e sorrisos fiquei constrangida. Que direito eu tenho de reclamar da vida?

Apenas um detalhe.

Tinha uma vida perfeita. Ou quase. Um casamento, um filho. Pais vivos, irmãos e uma sobrinha. E um dia, um dia como outro qualquer, como todos os dias em que coisas ruins acontecem, uma coisa ruim aconteceu. Um caminhão, um ônibus, um choque, muitos gritos, um acidente e só ela sobreviveu. Ou não. Acho que ali, naquele dia ela morreu. E nasceu uma outra mulher. 
Foram meses num hospital. Foram várias cirurgias, um processo contra a empresa de ônibus, um erro médico e um divórcio que fizeram a outra mulher nascer em seu lugar. 
A outra mulher, que agora era ela, nasceu quando precisou se adaptar a uma nova vida. A uma nova história. E ah, como ela mudou... Ficou mais bonita, mais madura, e incrivelmente mais feliz. Uma vez disse pra uma repórter "se eu tivesse que passar por tudo isso de novo pra aprender tudo que aprendi, eu passaria. Se me dessem a escolha de nao ter passado por tudo e não ter aprendido nada que eu aprendi, eu escolheria tudo de novo..." 
A cadeira de rodas no começo deve ter sido um choque, foi um choque. Foi doloroso. Mas ela estava viva. Hoje a cadeira é meio de transporte e apenas, e somente um detalhe pra quem olha de perto. Ela é linda, loira, bem sucedida. Se apaixonou, novamente, teve um outro filho quando todo mundo achava que ela não podia fazer mais nada da vida. Riu na cara da sociedade. Ri da cara da sociedade toda vez que aparece super produzida e dançando numa festa. 
Ela namora, seduz por onde passa. Mas nem tudo são flores. Ela tem TPM, e chora, e sofre às vezes. E tem que lidar com um filho adolescente que tem o dobro de seu tamanho e metade do seu charme. E tem que cuidar do filho de 5 anos, que precisa fazer tarefas escolares e não riscar as paredes do apartamento. E as vezes, eu acho, ela sente falta de algumas coisas.  E se sente frágil às vezes também, como todo mundo se sente. E apesar de ser tão diferente de todo mundo, por sua história, que fique claro, e não por seu meio de locomoção, ela é tão igual a todo mundo. Com problemas, com dores, com amores, com receios, e com reações surpreendentes.
Ela disse pra repórter "é preciso saber viver". Disse três vezes. Chorou um pouquinho, de emoção que fique claro. Contou todos os detalhes de sua vida, mas ao final, disse que passaria por tudo de novo só pra aprender o que aprendeu. 
E você, o que faz com seus problemas? E eu? O que tenho feito com os meus?

"Toda pedra no caminho
você pode retirar"

2 comments:

#OGnomo said...
This comment has been removed by the author.
#OGnomo said...

Bem... Você é fodaaaaa!!! Escreve pra caramba...
E ainda é, mesmo sem saber, uma das inspiradoras da iniciativa do meu blog...
Então...
Não preciso dizer mais nada!!!